Serendipity
…é uma palavra curiosa. Seria difícil traduzi-la ao português, não fosse o fato de que ela já foi dicionarizada, e de que lá estão, no Aurélio, os feiíssimos equivalentes “serendipista” e “serendipitoso”.
O dictionary.com dá a etimologia, que é em si mesma uma maravilha: From the characters in the Persian fairy tale The Three Princes of Serendip, who made such discoveries, from Persian Sarandīp, Sri Lanka, from Arabic sarandīb. É preciso entender que “such discoveries” se referem à primeira acepção do termo, no mesmo dicionário: The faculty of making fortunate discoveries by accident.
É maravilhoso ter tal palavra à mão. Utilizando-a, num só segundo aparecem os contos de fada, o Oriente sonhado pelo Ocidente, e uma estranha origem vocabular, que a nós latino-americanos pode lembrar a eterna fascinação de Borges pelas coisas do intelecto e sua indefectível fonte arábica. O Sri Lanka, aliás, é o velho Ceilão.
O lindo paradoxo é que não se pode contar com a serendipity. Esperá-la ardentemente seria arruiná-la. A serendipidade vem, como quem não quer nada, e quando nós não queremos nada. Melhor esquecê-la por um instante, para que ela possa existir.