O império do sentido
Há uma má vontade enorme lá fora em relação aos blogs. Não são poucos os amigos e colegas, de gerações várias, de quem ouço observações despeitadas. Sua crítica atinge tudo: do narcisismo patente nos blogs ao nonsense de sua prosa esvaziada.
Como resposta, vale a pena desfazer a contração: “blog” é um “web log”, isto é, uma caderneta imaginária em que se registram os acontecimentos, sucessos ou insucessos, de uma viagem.
De fato, há uma maioria de blogs que é quase impossível ler: “Ontem levei meu cachorrinho para passear e encontrei fulano…” “Na festa de sábado…”
Há no entanto um princípio poético nobre – importante, em todo caso – num blog. Algo assim como a aventura de estar aberto a reagir, com a velocidade própria do diário, aos estímulos desses passeios no mais das vezes vazios que compõem as nossas vidas.
Em suma, passeemos com o cachorrinho. Mas o que interessa é o que vem em seguida: um assassinato, um atropelamento, uma cena indescritível. Sem esses elementos, não há passeio que se sustente numa página (ou numa tela). Ou talvez, durante o passeio possa passar-se nada, absolutamente nada. Mas terá então que ser um daqueles “nadas” angustiantes a que as personagens de Clarice Lispector assistem desde os bancos dos jardins, nos ônibus, dentro de suas casas…
E no entanto, é preciso ser dramático para escrever?
O blog é ainda um exercício do efêmero, da escrita delicada que segue sem importar-se com o rumo das palavras. Uma espécie de entrega ao momento, que no fim das contas é a estação utópica para que todos rumamos.