O céu dos suicidas

12 de abril. Há um ano se suicidava um querido colega. Eu lhe telefonaria e deixaria uma mensagem no dia seguinte, sem saber ainda que estava morto.
Hoje, Ricardo Lísias lança em São Paulo seu novo livro, O céu dos suicidas, para o qual escrevi esta orelha:

Um colecionador, um Padre furtivo, um amigo ausente: como construir um enredo a partir dessa trinca?
Neste O céu dos suicidas, Ricardo Lísias confirma estar entre os melhores escritores da literatura contemporânea no Brasil. Retomando o estilo nervoso de seus livros anteriores, desta vez a ansiedade vem ao primeiro plano, e o que vemos é uma pessoa completamente ferida a buscar uma resposta, mas a procurar também uma redenção impossível. É um sujeito que expia sua culpa, dividindo-a com o leitor.
O narrador lembra um caçador sonolento que tentasse acertar o alvo no meio da noite, lutando para que seus olhos não se fechem. Mas o caçador (que corre atrás do sentido) é vencido sucessivas vezes pelo cansaço e pelo desespero, entregando-se impotente ao mundo dos loucos e dos delirantes: momento em que o sujeito não consegue fechar os ouvidos ao grito agonizante do que o cerca.
Como quase tudo que importa em literatura, este é um livro que dói, como se uma ferida se reabrisse a cada página, para fechar-se somente quando se fecha o livro, que é ao fim uma surpreendente oferta, a única oferta possível, diante da dor. Acima de tudo, O céu dos suicidas é emocionante.